Um técnico de enfermagem de 40 anos, que também atua como pai de santo, foi denunciado por duas mulheres por lesão corporal dolosa e ameaça, após um ritual espiritual marcado por agressões e ameaças em um terreiro no bairro Nhanhá, em Campo Grande. O episódio ocorreu entre a noite do dia 16 e a madrugada do dia 17 de julho, mas só veio à tona na tarde da última terça-feira (22), quando as vítimas, de 44 e 21 anos, procuraram a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para relatar o caso.
Segundo o boletim de ocorrência, o ritual começou por volta das 20h, com a presença de sete mulheres no local. Durante a sessão, o pai de santo teria incorporado uma entidade que se identificou como “João Mulambo”. De acordo com as vítimas, a entidade manteve todas em pé por cerca de duas horas, circulando entre elas com uma garrafa de cachaça e obrigando-as a beber – conduta que, segundo as denunciantes, não condiz com os preceitos da religião que seguem.
O relato torna-se ainda mais grave quando, em determinado momento, o homem teria ordenado que duas das mulheres se ajoelhassem e segurassem uma vela acesa por duas horas seguidas. Em tom ameaçador, ele teria afirmado que, caso alguma delas incorporasse outra entidade, “iria tirar na cabeçada até abrir a cabeça”.
Uma das mulheres relatou que começou a sentir fortes dores de cabeça e pediu para ir embora, mas foi impedida. O pai de santo teria dito que ela ficaria sentada para ser “punida” após o fim do ritual.
O episódio mais violento ocorreu quando o homem, ainda sob suposta incorporação espiritual, mandou que todas se colocassem em fila, passassem as mãos em pólvora e, em seguida, acendeu um charuto, provocando queimaduras nas vítimas. Segundo elas, a prática não tem relação com os fundamentos da religião de matriz africana que seguem. Com as mãos feridas, uma das mulheres afirma que o acusado ainda tentou jogar uísque nas lesões, alegando que seria uma forma de “purificação”.
Uma das vítimas conseguiu escapar do local após ir ao banheiro. Aproveitou o momento para lavar as mãos, pegou a filha e foi embora do terreiro. Mais tarde, ela contou à polícia que frequentava o local havia cerca de oito meses e, após o episódio, procurou outras lideranças religiosas, que negaram qualquer conhecimento sobre os rituais praticados naquela noite. Para elas, o que ocorreu configura tortura.
A Polícia Civil investiga o caso.