Começa hoje (4 de dezembro) o julgamento do caso de Sophia Jesus Ocampos, morta pela genitora e pelo padrasto com apenas 2 anos. Christian Campoçano e a genitora da menina, Stephanie da Silva, serão julgados no Fórum de Campo Grande (MS).
Os réus vão responder por homicídio empregado por maneira cruel e motivo fútil. Christian também responderá por estupro e Stephanie, por omissão.
A pequena Sophia faleceu em 26 de janeiro de 2023, e sua trágica história comoveu a todos. Ela foi levada sem vida pela genitora à UPA do Bairro Coronel Antonino, onde o médico legista constatou que o óbito havia ocorrido cerca de sete horas antes.
O laudo de necropsia, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), indicou que a causa da morte foi traumatismo na coluna cervical e confirmou que Sophia havia sido estuprada. A declaração de óbito detalha que o trauma na coluna evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica, além de mencionar que a menina sofreu “violência sexual não recente”.
Omissão do Estado
O caso de Sophia Jesus Ocampos ganhou ampla repercussão nacional. A morte trágica da menina e as circunstâncias nebulosas geraram uma onda de comoção e indignação.
A investigação revelou que Sophia havia sido levada mais de 30 vezes a unidades de saúde e que seu pai biológico, Jean Carlos Ocampos, já havia denunciado casos de maus-tratos. Junto com o pai afetivo da menina, Igor Andrade, os dois tentaram proteger a menina. Mas foi em vão.
Durante doze meses, Jean Carlos Ocampo notificou os órgãos de proteção à criança e ao adolescente de Mato Grosso do Sul sobre as agressões que sua filha estava sofrendo na casa da mãe. Eles contam com assistência de acusação dos advogados Janice Andrade e Josemar Fogaça.
Ele fez três visitas ao Conselho Tutelar, duas à Polícia Civil, uma à Defensoria Pública e uma ao Juizado Especial. No entanto, nenhuma ação foi implementada, e Sophia de Jesus Ocampo permaneceu sob a guarda da mãe.
Violência extrema
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado, analisou as mensagens trocadas entre Christian Campoçano Leitheim e Stephanie de Jesus da Silva, e verificou indícios de tortura por parte dos réus. Além disso, foi realizada a quebra de sigilo telefônico do celular de Christian.
O relatório indicou que uma perícia no celular de Christian revelou imagens dele se masturbando no mesmo ambiente onde as crianças dormiam. Essas imagens foram registradas nos dias 19 e 20 de janeiro de 2023, apenas uma semana antes da morte da vítima. Além disso, o documento afirma que Christian também tirou fotos nu, com o órgão genital ereto, na residência dos acusados, situada na Rua Sabino José da Costa, na região da Vila Nasser, em Campo Grande, com a criança presente no local.
“Registra-se, ademais, que já restou noticiado o mecanismo violento usado pelo acusado, consistente em tapa e ‘quebra-costela’, para punir a vítima, agressões que eram seguidas de sufocamento como forma de interromper o choro da criança, cujo pranto era silenciado pela ânsia de respirar enquanto tinha seu rosto pressionado contra um colchão”, diz relatório assinado pela promotora de Justiça Ana Lara Camargo de Castro, coordenadora do Gaeco.



O Julgamento
O julgamento promete ser intenso e emocional. No primeiro dia, testemunhas serão ouvidas durante a manhã, incluindo um investigador de polícia, uma médica e um médico legista. Duas testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), e outras cinco testemunhas de defesa de Stephanie prestarão depoimento ao longo da manhã.
Às 13 horas, ocorrerão as oitivas de cinco testemunhas de defesa de Christian. Os réus serão ouvidos em seguida, mesmo que isso faça com que o julgamento se estenda até a noite.
No segundo dia do julgamento, serão realizados os debates entre acusação e defesa, que deverão ocupar todo o dia. Por fim, acontecerá a votação dos quesitos e a sentença.
A história de Sophia é um lembrete doloroso da vulnerabilidade das crianças e da necessidade de proteção e justiça. O julgamento representa um passo crucial para trazer à tona a verdade e responsabilizar os culpados. A memória de Sophia e a busca por justiça devem servir como um farol para garantir que tragédias como essa nunca mais se repitam.
A sociedade aguarda ansiosamente por justiça para a pequena Sophia, esperando que todos os envolvidos sejam devidamente responsabilizados.

