Jovem, bonita, Mônica Martins Sodré deu todos os sinais. Aos 29 anos, mãe de três meninas, ela não escondia de ninguém o problema de depressão. Ontem quando a Onça reportou o suicídio de uma enfermeira amigas da vítima desferiram palavras de ódio e de ofensas contra a reportagem. Mas fica impossível não falar sobre suicídio quando a intenção de tirar a própria vida era pública e gritante por parte da vítima.
“Muitos acham frescura mas só quem sente sabe a dor do vazio da depressão e a dor na alma, já nao sei p que faço. Para mim não tem sentido a vida parece que nada está bom. Agora entendo porque muitos se matam eu ja tentei, tomei remédios, cortei meus pulsos, tentei pular de uma ponte mas não consegui, me tiraram a tempo. Mas não vejo motivo para viver, nada para mim faz sentido parece que para mim o mundo acabou”, escreveu há uma semana. Hoje (11) após o fato consumado, muitos resolveram escrever lá. Alguns até lembrando que tentaram fazer algo. Monica morava em Campo Grande (MS).
As redes sociais são usadas para a verbalização do desejo e merecem atenção. Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, afirma que quando uma pessoa diz “estou muito cansada, não quero continuar”. “É algo que, isoladamente, não recebe muita atenção das pessoas. Mas junto com outros sintomas, tem de ser visto com um olhar mais diferenciado”.
Ou quando a pessoa diz “quero me matar, quero morrer, vou cometer suicídio”. “Muita gente não dá atenção para isso porque acha que a pessoa não está falando a verdade, que quem fala não faz”. Mas Mônica fez.
Scavacini alerta que “sintomas de depressão associados a sinais verbais pode mostrar que pessoa está em risco”.”Tudo depende de muita coisa. Às vezes a pessoa está com risco baixo de suicídio e tem um desencadeante forte, como ser mandada embora do emprego, perder alguém importante. Pode ser a gota d’água. Esses períodos de estresse demandam maior atenção”, afirma.
Identifiquei os sinais. E agora, o que faço?
Se você desconfiar que alguém próximo está pensando em suicídio, não fique parado, tome uma atitude.
A primeira atitude pode ser começar uma conversa com a pessoa. Aborde com uma “postura acolhedora”, diz Scavacini.
É preciso “segurar o julgamento” e começar uma conversa dizendo, por exemplo: “Estou preocupado com você, percebi que você está assim [diga como]. Está acontecendo alguma coisa? Estou aqui para te ajudar” ou então: “Como você está se sentindo hoje?”
Escute. Depois que perguntar como ela está, o importante é deixar a pessoa falar. “Muitas vezes, a pessoa colocar em palavras o que ela está sentindo pode ser relevante. Ela pode sentir que é importante para alguém, e isso pode lhe dar um bom apoio”, afirma a psicóloga.
Dados importantes
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, e essa é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas de acidentes de trânsito.
Por isso é preciso falar sobre o assunto?
A Organização Mundial de Saúde alerta que o suicídio é talvez a forma mais trágica de alguém terminar a vida. é que a maioria das pessoas que consideram a possibilidade de cometer o suicídio são ambivalentes. “Elas não estão certas se querem realmente morrer. Um dos muitos fatores que podem levar um individuo vulnerável a efetivamente tirar sua vida pode ser a publicidade sobre os suicídios. A maneira como os meios de comunicação tratam casos públicos de suicídio pode influenciar a ocorrência de outros suicídios”, ainda assim a mesma OMS alerta a necessidade de falar sobre o assunto.
O que a sociedade pode fazer?
A OMS diz que os governos podem tomar diversas medidas para prevenir o suicídio, incluindo:
- Quebrar o tabu e falar sobre o assunto
- Ajudar jovens a desenolver habilidades úteis para lidar com as pressões da vida, especialmente nas escolas
- Treinar profissionais de saúde para lidar com comportamento suicida
- Identificar e apoiar pessoar em risco e manter contato com elas no longo prazo
- Restringir o acesso a instrumentos letais
Em Campo Grande está funcionando o serviço 188 do CVV (Centro de Valorização da Vida).
Para os beneficiários da Cassems também tem um serviço de acolhimento nessa quarentena. No serviço oferecido os psicólogos estarão na retaguarda para os pacientes que necessitarem de ajuda. Para ter acesso ao canal, o beneficiário deve ligar para (67) 4001-6919, de segunda à sexta-feira, das 7h às 22h. A ligação é gratuita, com garantia de sigilo e anonimato.
Nota da redação: não há proibição de falar sobre suicídio e sim cuidados que são devidamente seguidos pela nossa equipe.