A necessidade urgente de mobilização de recursos financeiros para promover uma transição energética e alcançar as metas climáticas do Acordo de Paris deu o tom do discurso do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres, na abertura da Cúpula do Clima, em Belém.
O evento antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada de 10 a 21 de novembro na capital paraense. Na avaliação de Guterres, o momento não é mais de negociação, mas de implementação dos compromissos assumidos nas últimas décadas.
Notícias relacionadas:Especialista da COP30 cobra mais financiamento para oceanos.OMM cobra ação global imediata para frear aquecimento durante COP30.É momento de levar a sério os alertas da ciência, diz Lula em cúpula.”Precisamos demonstrar um caminho claro para podermos chegar a US$ 1,3 trilhão em financiamento climático a países em desenvolvimento, até 2035, conforme decidido na COP de Baku [no Azerbaijão]. Os países envolvidos têm que liderar para mobilizar esses investimentos, para que eles possam oferecer financiamentos acessíveis. Não é mais tempo de negociar, estamos na hora de implementar, implementar e implementar”, afirmou.
Sobre esse desafio, as presidências da COP29 do Azerbaijão e da COP30 do Brasil anunciaram, na última quarta-feira (5), um plano estratégico para levantar esse mínimo de US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático pelos próximos dez anos. É o chamado Mapa do Caminho Baku-Belém, que prevê uma série de mecanismos tributários e financeiros para alocar os recursos.
Em seu discurso, Guterres lembrou que, no ano passado, os investimentos em energias renováveis superaram em US$ 800 milhões o valor destinado a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Segundo ele, é preciso romper com lobbies do segmento que é o maior responsável pela emissão de gases poluentes que aquecem a atmosfera do planeta.
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“Os combustíveis fósseis ainda levam muitos subsídios dos contribuintes, muitas empresas e corporações estão lucrando cada vez mais com a devastação ambiental, com bilhões sendo gastos com lobbies para enganar o público e obstruir o progresso. E muitos líderes globais ainda se mantêm em linha com esses interesses”, observou o chefe da ONU.
“Sempre defendi contra mais explorações de combustíveis fósseis como também de plantas de carvão. Na COP de Dubai [2023], os países se comprometeram a fazer a transição, sem aquela lavagem verde mais, e precisamos realmente entrar em ação, enquanto trabalhamos e apoiamos os países em desenvolvimento que ainda dependem desses combustíveis fósseis. Precisamos superar barreiras estruturais para que os países em desenvolvimento possam entregar e apresentar seus compromissos de NDCs [metas de redução de emissões poluentes]”, prosseguiu Guterres.
Na prática, a Cúpula do Clima busca reunir líderes de diversos países para dar peso político às negociações que se seguirão pelas próximas duas semanas de COP. A cada ano, um país recebe a Conferência do Clima, que tem como principal missão buscar formas de implementar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). Esse documento foi adotado por diversos países em 1992, justamente em uma conferência no Brasil, a Eco-92, no Rio de Janeiro.
Desde então, a meta geral passou a ser a de estabilizar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse compromisso foi reforçado há dez anos, com o Acordo de Paris, que abrangeu a quase totalidade de países no compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5º C.
A Cúpula do Clima em Belém reúne dezenas chefes de Estado e de governo, até esta sexta-feira (7). Em discurso de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também defendeu a superação dos combustíveis fósseis e enfatizou a necessidade de os países levarem a sério os alertas da ciência sobre o clima.