Na entrevista, ao citar as “derrotas sucessivas” de Rose, Adriane tenta enquadrar os atos de rua como extensão de um projeto eleitoral que não conseguiu se viabilizar nas urnas
A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), usou a entrevista ao programa Tribuna Livre nesta terça-feira (2) para endurecer o tom contra as manifestações organizadas contra sua gestão e para defender a atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) durante a abertura do Natal da cidade.
Na fala, Adriane atribuiu a articulação dos atos ao ex-prefeito Marquinhos Trad (PDT) e à ex-candidata derrotada à Prefeitura, Rose Modesto (União Brasil), e apontou contradição entre o discurso “em defesa das mulheres” levantado por aliados do grupo e o perfil de quem estava na linha de frente do tumulto.
Tumulto no Natal e manifestante com mais de 50 passagens, 30 por violência doméstica.
O estopim da crise foi a confusão registrada na abertura oficial das festividades de Natal, na noite de sábado (29), na região central de Campo Grande. O evento, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, muitas famílias com crianças, foi alvo de um grupo de manifestantes que iniciou provocações em meio ao público, já com a via lotada.
De acordo com reportagem do Jornal A Onça, dois homens acabaram detidos pela GCM por desacato. Um deles foi identificado como Fagner de Barros Umbelino, que possui mais de 50 passagens policiais, sendo pelo menos 30 por violência doméstica. A situação ficou ainda mais tensa quando foi percebido que um dos envolvidos portava um canivete.
Mesmo após orientação para que deixassem o local e evitassem novas provocações, os dois continuaram hostilizando a equipe de segurança e foram encaminhados à delegacia. A programação natalina seguiu normalmente após a intervenção da Guarda.
Paralelamente, veículos de imprensa registraram que a Prefeitura passou a ser alvo de críticas nas redes sociais, com vídeos editados que mostravam apenas o momento da intervenção da GCM, sem o contexto da presença de um homem armado e do histórico criminal de um dos detidos.
Prefeita defende GCM e diz que alvo era “atrapalhar o Natal das famílias”
Em agenda oficial nesta terça (2), Adriane já havia defendido publicamente a corporação, afirmando que a atuação da GCM foi fundamental para garantir a segurança das famílias durante o evento natalino no Centro.
Na entrevista ao Tribuna Livre, a prefeita reforçou essa linha: que a Guarda agiu dentro da legalidade, com uso progressivo da força, e que não iria aceitar que a cidade se tornasse palco de baderna travestida de manifestação.
Ela também mirou diretamente nos articuladores políticos por trás dos atos, citando o ex-prefeito Marquinhos Trad e Rose Modesto como padrinhos políticos das mobilizações.
O contraste que Adriane buscou acentuar foi claro: de um lado, lideranças que discursam sobre direitos humanos e defesa das mulheres; de outro, um dos rostos do ato com três dezenas de registros de violência doméstica nas costas.
Marquinhos Trad: ex-prefeito responde por crimes sexuais contra mulheres
Ao mencionar Marquinhos Trad, Adriane resgata um histórico que hoje pesa fortemente sobre a biografia do ex-prefeito. Desde 2022, ele é alvo de uma série de denúncias de crimes sexuais.
Reportagens apontam que ao menos 15 mulheres relataram abusos que teriam sido cometidos pelo ex-prefeito, com relatos encaminhados à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
Em outubro de 2022, o ex-prefeito foi indiciado pela Polícia Civil por crimes de assédio sexual, importunação sexual e favorecimento da prostituição, em cinco casos, após pelo menos 16 denúncias terem sido formalizadas naquele ano.
Em janeiro de 2023, o Ministério Público denunciou Marquinhos, que se tornou réu por crimes sexuais contra sete mulheres em Campo Grande.
Parte dos inquéritos foi arquivada pela Justiça por questões processuais (como prescrição ou ausência de representação dentro do prazo legal), mas uma parcela das acusações segue tramitando na esfera criminal.
O ex-prefeito nega as acusações e, em entrevistas, já classificou as denúncias como “armação política”, afirmando confiar que o tempo mostrará sua versão dos fatos.
Ao trazer esses dados à tona enquanto fala de manifestações que reivindicam “justiça” e “respeito às mulheres”, Adriane busca reforçar a narrativa de que há uma contradição entre quem convoca os atos e o histórico que os cerca.
Rose Modesto: sequência de derrotas nas urnas
A prefeita também mirou na trajetória recente de Rose Modesto, ex-vice-governadora, ex-deputada federal e hoje uma das principais lideranças de oposição ao seu governo na Capital.
Embora tenha uma carreira consolidada na política, Rose acumula reveses eleitorais importantes nos últimos anos.
Rose foi candidata a prefeita pelo PSDB e chegou ao segundo turno contra Marquinhos Trad (PSD). Acabou derrotada por 58,77% a 41,23% dos votos válidos, segundo dados oficiais do TSE.
Em 2022, Rose se lançou candidata ao governo do Estado pelo União Brasil. No resultado final do 1º turno, ficou em 4º lugar, com 12,42% dos votos válidos, atrás de Eduardo Riedel (PSDB), Capitão Contar (PRTB) e André Puccinelli (MDB). 
Em 2024, Rose voltou à disputa pela Prefeitura de Campo Grande, desta vez contra Adriane Lopes, no segundo turno. A ex-deputada terminou novamente derrotada: Adriane foi reeleita com 222.699 votos (51,45%), enquanto Rose somou 210.112 votos (48,55%), segundo dados divulgados pelo TSE e imprensa nacional.
Na entrevista, ao citar as “derrotas sucessivas” de Rose, Adriane tenta enquadrar os atos de rua como extensão de um projeto eleitoral que não conseguiu se viabilizar nas urnas e que agora, segundo ela, tenta se impor pela lógica da pressão e do tumulto em eventos públicos.
Disputa política vai para as ruas – e para o Natal da cidade
Enquanto vídeos e relatos de manifestantes circulam nas redes acusando a GCM de truculência e violência em meio ao ato contra a prefeita, outros registros — e os dados oficiais sobre os detidos — ajudam a compor um quadro mais complexo: entre os “indignados” com a gestão, há ao menos um homem com uma longa ficha de violência contra mulheres, e o principal articulador político das críticas responde na Justiça por uma série de crimes sexuais.
Ao usar o microfone do Tribuna Livre para amarrar esses pontos, Adriane Lopes envia um recado direto: vai manter a defesa da Guarda Civil Metropolitana, não pretende recuar na realização dos eventos natalinos, e quer recolocar no centro do debate o passado de quem tenta desgastar sua gestão nas ruas.
A leitura política é clara: o confronto em Campo Grande não é apenas entre manifestantes e Prefeitura, mas entre dois projetos — o de uma prefeita recém-reeleita e o de um eixo de oposição liderado por um ex-prefeito réu em ações por crimes sexuais e por uma ex-candidata que coleciona derrotas nas últimas eleições.
No meio dessa disputa, ficam as famílias que saíram para ver o acender das luzes de Natal, e acabaram no olho do furacão político da Capital.





