2:57 segunda-feira, 8 setembro 2025
A Onça
No Result
View All Result
A Onça
No Result
View All Result
A Onça
No Result
View All Result

Slide Slide

Crise climática ameaça tradição milenar da cerâmica Waurá

Crise climática ameaça tradição milenar da cerâmica Waurá

A Onça by A Onça
7:02 domingo, 7 setembro 2025
in Brasil
A A

Conta a tradição do povo Waurá (ou Wauja) que, há muitos anos, uma grande cobra-canoa apareceu. Chamada de Kamalu-hái, a entidade trazia artefatos cerâmicos em seu dorso, e foi com ela que os Waurá aprenderam a arte ancestral da cerâmica.

Antes de se despedir dos Waruá, a cobra-canoa deixou para eles seus dejetos: os montes de argila que foram depositados nas margens do rio, para que as peças pudessem ser produzidas pelos indígenas. Assim, a cerâmica Waurá passou a ser fabricada, constituindo-se em um dos elementos de identidade desse povo.

Notícias relacionadas:Indígenas do Vale do Javari serão atendidos por mutirão médico.Organizações alertam para agenda anti-indígena no Congresso Nacional.Presidência da COP30 convida setor privado a integrar agenda de ação.Como herança ancestral, passada de geração em geração, essas peças são feitas artesanalmente, podendo variar de pequenos potinhos a grandes panelas. Elas servem para o preparo de alimentos e armazenamento, mas também para serem utilizadas em rituais ou como objetos decorativos.

Depois de modeladas à mão, as peças secam ao sol e passam por dezenas de raspagens, até chegar à espessura desejada. Em seguida, elas são lixadas e polidas, até que possam ser queimadas ao ar livre. Só então é que essas peças adquirem sua característica mais reconhecida: a pintura de grafismos, realizada com pigmentos naturais.

Para fazer essa cerâmica, os Waurá ─ que habitam o Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso ─ coletam o barro no leito do rio e o misturam com uma espécie de esponja de água doce ou coral, chamada cauxi. Formado nos troncos e raízes da vegetação, o cauxi é coletado no fundo dos rios e é essencial para dar liga ao barro e evitar rachaduras nas peças.

Você podequerer ler

Não há

Não há “ditadura da toga” no Brasil, afirma Gilmar Mendes

8 de setembro de 2025
Polícia usa gás lacrimogêneo para despejar ocupantes de prédio no Rio 

Polícia usa gás lacrimogêneo para despejar ocupantes de prédio no Rio 

7 de setembro de 2025
Caminhos para Exu celebra resistência dos povos de terreiro no DF

Caminhos para Exu celebra resistência dos povos de terreiro no DF

7 de setembro de 2025
Jogadores do Brasil destacam desafio de jogar na altitude da Bolívia

Jogadores do Brasil destacam desafio de jogar na altitude da Bolívia

7 de setembro de 2025

“Primeiro a gente pega o barro no rio ou perto do rio. Os homens é que mergulham para pegar o barro”, explicou Yakuwipu Waurá, liderança indígena, ceramista e professora Waurá, que vive na aldeia Piyulewene, no Parque Nacional do Xingu.

“A gente pega o barro e também o cauxi. O barro, sozinho, não se forma. Se a gente só usar o barro, vai rachar tudo. E, para não rachar, a gente usa o cauxi, que fica no pântano do rio ou na beira do rio. O cauxi se reproduz enquanto o rio fica cheio. Ele fica lá por uns quatro ou cinco meses, brotando. Ele vai crescendo e, depois, morre. Morre sozinho”, explicou a ceramista.

 

Yakuwipu Waurá durante a reunião de Governança Geral do Xingu sobre a BR 242. Piratá Waurá/ISA/Proibida reprodução

Risco

Guardado e transmitido há mais de 1 mil anos, principalmente pelas mulheres, o conhecimento da fabricação da cerâmica Waurá, no entanto, agora está em risco. As secas prolongadas e as cheias cada vez mais curtas e irregulares têm reduzido drasticamente a disponibilidade do cauxi, elemento essencial para a produção dessas cerâmicas.

Além disso, o processo artesanal, que envolve coleta de barro, queima em madeira específica (jatobá) e pintura com grafismos tradicionais, também sofre com os impactos ambientais. Sem esses insumos, fica em risco não apenas a produção, mas a autonomia econômica das mulheres e a transmissão cultural para as novas gerações.

“Desde 2020, a gente vem percebendo que a mudança climática está afetando [a produção de cauxi]. Como o rio não sobe mais por um [período] de cinco meses, ficando apenas três meses e já baixando, aí não tem o suficiente para o cauxi se reproduzir. Ele não cresce mais”, falou Yakuwipu, em entrevista à Agência Brasil.

Ela contou que as dificuldades levaram à interrupção da produção de panelinhas artesanais. Além disso,  foi necessário buscar o cauxiem outros lugares, o que encareceu o trabalho.

 

Cerâmica Waurá. Claudio Tavares/ISA/Proibida reprodução

“No lugar em que a gente costumava sempre pegar [cauxi], agora é que ele começou a se recuperar. Mas os cauxis ali são muito pequenos e insuficientes para cortar, queimar e fazer a mistura [com o barro]”, completou.

Na última semana, ceramistas do povo Waurá estiveram em São Paulo participando de uma série de encontros, oficinas e rodas de conversa. E aproveitaram para fazer um alerta sobre as mudanças climáticas, que não só vem intensificando eventos extremos como enchentes e secas, mas também vem afetando a identidade e tradição de diversos povos.

“Isso tudo é muito preocupante. A gente se preocupa muito com o avanço do desmatamento em volta do Xingu. Nunca imaginamos que isso afetaria a produção de panelinha [as cerâmicas Waurá]. A gente sempre se preocupou se esse conhecimento se perderia com o tempo. Mas a gente nunca pensou que chegaria esse momento de sermos afetados pelas mudanças climáticas. O povo Waurá vive do que a natureza oferece. Só que a gente está pagando o preço e as consequências do mal que os outros fazem à natureza”, alertou Yakuwipu. “Infelizmente, vocês não cuidam [do meio ambiente]. Vocês só abusam da natureza”, reforçou.

Como a falta de cauxi afeta a produção de panelinhas, consequentemente isso também vem trazendo reflexos sobre a identidade e a renda dessa população indígena, que comercializa essas cerâmicas.

“Estamos ameaçados, tanto culturalmente quanto também na renda”, destacou a liderança indígena. “Todas as peças que a gente produz são relacionadas aos materiais que estão em volta da gente, como os animais, os pássaros e os peixes. Além disso, [as cerâmicas] são pedaços de nossas histórias, são memórias. Através de cada peça, a gente tem contado do [nosso] passado e da [nossa] cultura também. Cada pintura que fazemos, por meio dessas linhas, nos mantêm conectados ao passado, ao presente e ao futuro”.

Em entrevista à Agência Brasil, no Espaço Floresta do Centro, do Instituto Socioambiental, no centro da capital paulista, Yakuwipu disse que, além da produção das cerâmicas, as mudanças climáticas também vem dificultando a produção de alimentos dos povos indígenas. “Em 2023, não conseguimos plantar uma grande escala de mandioca. Eu replantei três vezes, e a mandioca cresceu toda pequena. E a gente não conseguiu plantar milho, perdemos todas as sementes. Também não conseguimos plantar bananas”.

COP 30 em Belém

Para a líder indígena, esse cenário reforça a urgência dos debates da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em Belém, de 10 a 21 de novembro. Para ela, é importante que as autoridades ouçam as vozes indígenas e que os fazendeiros “deixem de desmatar as florestas”.

“Os xinguanos [habitantes do Xingu] precisam ser consultados sobre todas as obras que vão ser construídas em volta do Xingu, porque a gente já tem uma experiência em relação à [usina] PCH Paranatinga II, que foi construída sem estudo nenhum. As autoridades falaram que ela não ia afetar a vida da gente, mas, passados dez anos, ela que foi responsável por secar o Rio Xingu. Para evitar [os desastres ambientais], é preciso que as autoridades nos respeitem, porque o rio e a floresta respiram como nós”, destacou Yakuwipu.

Para Karina Araújo, analista de pesquisa social do Programa Xingu do Instituto Socioambiental, é fundamental que os povos indígenas sejam ouvidos sobre os projetos de infraestrutura do país e também sobre ações que possam impedir o desmatamento e as queimadas na região.

“Acho que essa consulta livre, prévia e informada é um tipo de solução. Se você vai fazer um empreendimento sem ouvir os povos indígenas, você vai afetar não só os povos indígenas, você vai afetar todo o entorno e as gerações futuras. Quando a gente ouve os povos indígenas, eles estão fazendo a mitigação e a adaptação. A gente sabe que, no entorno do Parque Indígena do Xingu, temos muita produção de soja. É preciso que as autoridades dos países que compram essa soja vejam como são também responsáveis por afetar esse equilíbrio ambiental”, falou.

Karina disse ter muita esperança sobre a participação dos povos indígenas na COP 30. “Além do evento acontecer no Brasil, ele acontece aqui nesse momento político em que temos o Ministério dos Povos Indígenas. A gente tem organizações indígenas muito fortalecidas por esse ministério e por toda uma mudança, vamos dizer assim, de financiadores. Atualmente, temos muito mais financiadores ou empresas financiando diretamente as associações e organizações indígenas. Isso aumenta o protagonismo dos indígenas”, disse ela. “Então, eu espero que tanto o governo brasileiro como os governos de outros países se coloquem em escuta [aos apelos indígenas]”.

 

Siga A Onça no


Compartilhe isso:

  • Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) WhatsApp
  • Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook
Tags: Agencia BrasilBrasilNotícias

Leia também

Não há

Não há “ditadura da toga” no Brasil, afirma Gilmar Mendes

by A Onça
8 de setembro de 2025

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usou suas redes sociais para rebater as recorrentes críticas ao Poder Judiciário brasileiro. Em uma postagem publicada no início da noite na rede X, Mendes defendeu a atuação da Corte, afirmando...

Polícia usa gás lacrimogêneo para despejar ocupantes de prédio no Rio 

Polícia usa gás lacrimogêneo para despejar ocupantes de prédio no Rio 

by A Onça
7 de setembro de 2025

Agentes da Polícia Militar, com apoio da Guarda Municipal, fizeram uma ação de desocupação de um prédio no Centro do Rio de Janeiro neste domingo (07). Bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta foram usados para retirar as pessoas...

Caminhos para Exu celebra resistência dos povos de terreiro no DF

Caminhos para Exu celebra resistência dos povos de terreiro no DF

by A Onça
7 de setembro de 2025

Mais de uma centena de praticantes e simpatizantes das religiões de matriz africana se reuniram na tarde deste domingo (7), em Brasília, para celebrar a fé e a resistência dos povos de terreiros e pedir o fim da intolerância religiosa....

Load More
  • Home
  • Política de Cookies
  • Posts

© 2023 A Onça

Welcome Back!

Login to your account below

Forgotten Password? Sign Up

Create New Account!

Fill the forms below to register

All fields are required. Log In

Retrieve your password

Please enter your username or email address to reset your password.

Log In

Add New Playlist

No Result
View All Result
  • Home
  • Postagens
  • Artigos da Onça
  • Brasil
  • Polícia
  • Governo
  • Campo Grande
  • Política
  • Saúde
  • Clima
  • Emprego
  • Cultura e Lazer
  • Emprego

© 2023 A Onça

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições Ver política de privacidade