Passado o vuco-vuco das convenções e finalmente encerrada a novela sobre um candidato a vice para Adriane Lopes, que optou pela dentista Camila Nascimento de Oliveira após a “patacoada” da escolha do deputado federal Luiz Ovando – que tinha um programa na TV tão bom que nem ele lembrava que existia – finalmente temos as chapas formadas.
Como se trata de um artigo de opinião e análise política, é preciso ao menos um “tico” de tempo para avaliar o que os nomes escolhidos provocam – tanto de bom quanto de ruim. Voltamos ao primeiro nome de vice de Adriane, lá atrás, muito antes de o ex-presidente Jair Bolsonaro dar um golpe imenso na senadora Tereza Cristina e decidir apoiar o tucano Beto Pereira.
Se essa novela dos vices – ou jogo – teve um vencedor, ele tem nome. Nesse contexto, o FATOR CORONEL se destaca, dando título ao nosso artigo.
Em 2015, quando ainda era um deputado federal do baixo clero e começava a ganhar projeção nacional, ninguém acreditava nele. Em Mato Grosso do Sul, o ex-comandante da Polícia Militar era primeiro suplente de deputado estadual – cargo que assumiu durante um período – e percorria redações apresentando o nome desse desconhecido: Jair Bolsonaro.
Conhecem? Sim, o atual ídolo da direita, que, pouco tempo depois, tornou-se presidente do Brasil. Não foi reeleito, é verdade, mas é inegável que deixou um rastro de apaixonados e um séquito de seguidores leais e vorazes.
Quando Bolsonaro decidiu “mudar” de lado e apoiar o nome de Beto Pereira na disputa pela Prefeitura de Campo Grande, o deputado bolsonarista Coronel David já era considerado candidato a vice na chapa progressista de Adriane Lopes. A senadora Tereza Cristina já havia conversado com o coronel e sabia que ele traria um nome forte para a chapa da reeleição da prefeita. David havia concordado, mas, de repente, em mais um dos arroubos de Bolsonaro, “dormiu” na chapa progressista e “acordou” com a ligação do ex-presidente informando as mudanças de planos.
Entretanto, uma vontade de Bolsonaro foi mantida: David deveria ser o vice, ou… alguém escolhido por ele. Surge, então, mais um “fator Coronel”, já que entra em cena a Coronel Neyde. Oficial da Polícia Militar, ela traz à campanha de Beto Pereira a imagem feminina tão buscada, ao mesmo tempo que agrada a um público que busca nas forças de segurança a confiança muitas vezes ausente na política.
Primeira mulher a alcançar o coronelato na Polícia Militar (2019), também foi a primeira subcomandante (2010-2012) e a primeira a assumir o Comando Geral (2023) da instituição em Mato Grosso do Sul. Bacharel em Direito pela UCDB, acumula seis especializações na área de segurança pública. Sua história se entrelaça com a de muitos brasileiros que cresceram sob a influência do militarismo, fortemente defendido pela direita e pelos bolsonaristas. Neyde é natural de uma família ribeirinha de Coxim, dedicada à produção de leite. Ainda adolescente, mudou-se para Costa Rica para estudar e, aos 17 anos, prestou concurso para a Polícia Militar, sendo aprovada em segundo lugar.
Ou seja, uma daquelas histórias que são agradáveis de contar.
Mas não se engane, pois Neyde é PM e não chegou ao coronelato por acaso. Além de ser estrategista por natureza da profissão, também possui o perfil adequado. Ademais, tem experiência em campanhas políticas, seja como candidata – disputou as eleições de 2022 para o cargo de deputada federal – ou como um dos principais nomes de seu ‘padrinho’, Coronel David.
David e Neyde conseguiram, de alguma forma, resgatar um Bolsonaro dos primórdios, que voltou a olhar para seus primeiros aliados, tal como em 2015, quando ainda não era tão conhecido nem tão cortejado.
Se pudesse dar uma dica para o ninho tucano, seria: tratem a Coronel Neyde com mais carinho, atenção e abrindo mais espaço.
Até mesmo o Capitão já percebeu o valor que Coronel tem…
