Igor Trindade celebra reconhecimento judicial e desabafa: “Nenhuma indenização trará nossa filha de volta, mas a verdade, enfim, foi reconhecida”
Dois anos e oito meses após a morte da pequena Sophia de Jesus Ocampo, a Justiça de Mato Grosso do Sul deu uma resposta histórica — e carregada de emoção — à dor vivida por seus pais. O pai biológico, Jean Carlos Ocampo, e o pai afetivo, Igor de Andrade Trindade, conseguiram na Justiça o reconhecimento de que o Estado e o Município de Campo Grande foram negligentes ao ignorar uma série de denúncias que poderiam ter salvado a vida da menina.
Mas, além da indenização de R$ 430 mil e da condenação por omissão, o que marcou a sentença foi algo ainda mais profundo: o reconhecimento do vínculo de paternidade afetiva entre Igor e Sophia — uma conquista que vai além do campo jurídico.
“Nenhuma indenização trará nossa filha de volta. Mas hoje, pela primeira vez, fui reconhecido como pai afetivo da Sophia. E o Estado foi responsabilizado pela negligência que tirou a vida dela. A verdadeira vitória é ver a verdade finalmente reconhecida”, escreveu Igor nas redes sociais, emocionado.
Amor e luta em nome de Sophia
Desde o início do caso, Igor foi uma das vozes mais firmes na busca por justiça.
Ao lado de Jean, ele denunciou as agressões sofridas pela menina, cobrou providências de autoridades e acompanhou de perto as falhas do sistema que, mesmo alertado, não agiu para proteger a criança.
Durante o processo, testemunhas confirmaram que Sophia chamava Igor de “Papai Urso” — símbolo da relação de amor e cuidado que existia entre eles.
O juiz Marcelo Andrade Campos Silva, da 4ª Vara de Fazenda Pública, destacou esse laço em sua decisão:
“As provas mostram que Igor mantinha relação de pai afetivo com Sophia, desde os 10 meses, com vínculo de amor e convivência familiar consolidado.”
Justiça com humanidade
A decisão judicial, publicada em 8 de outubro, reconhece a omissão dos órgãos públicos — entre eles o Conselho Tutelar, a Defensoria Pública e unidades de saúde — e condena o Estado e o Município ao pagamento de indenização e pensão vitalícia aos pais.
Mais do que o valor financeiro, a sentença simboliza o reconhecimento de duas dimensões: A falha do Estado, que não protegeu uma criança em risco e a força do amor afetivo, agora legitimado pela Justiça como parte da verdade de Sophia.
A vitória da verdade
Para Igor, o desfecho é doloroso, mas também libertador.
A luta que começou com o luto se transforma, agora, em legado — um alerta sobre a importância da escuta, da proteção e da sensibilidade das instituições diante de denúncias de violência contra crianças.
“A verdadeira vitória é ver a verdade finalmente reconhecida”, disse ele, em tom de alívio e despedida.