Cinco pastores evangélicos ingressaram com ação judicial para pedir o afastamento de Wilton Melo Acosta da presidência do Conselho Estadual de Pastores Evangélicos de Mato Grosso do Sul (Consepa-MS). A alegação do grupo é grave: supostos conflitos de interesses, condutas imorais e ausência de prestação de contas, especialmente no que diz respeito à movimentação financeira de grandes eventos, como a Marcha para Jesus.
Os pastores Carlos José Storki de Deus, Ivan de Souza, Daniel Souza Brito, Ellen Barbosa Lopes de Melo e Dirceu Mathias de Oliveira Junior assinam a denúncia. Eles também citam que Acosta responde a processo por desvio de recursos públicos durante sua gestão à frente da Fundação do Trabalho de MS (Funtrab), em 2016.
De acordo com a ação, uma apuração interna realizada em março por membros do Conselho de Ética do Consepa-MS concluiu que Wilton teria utilizado a estrutura da entidade para fins pessoais, delegado funções estatutárias a pessoas alheias ao conselho, ofendido membros da diretoria e não prestado contas de receitas obtidas com eventos. Com base no estatuto da entidade, a comissão determinou a suspensão do presidente.
Entretanto, mesmo afastado, Acosta convocou e realizou uma assembleia geral extraordinária em 2 de maio, antecipando uma eleição que só deveria ocorrer em dezembro. Ele próprio e seus aliados foram reconduzidos à diretoria, o que levou os denunciantes a recorrerem à Justiça. Na petição, o advogado Yahn Sortica pede, com tutela de urgência, a anulação da eleição e o imediato afastamento de Wilton. O juiz, contudo, negou o pedido de urgência, alegando a necessidade de ouvir o acusado antes de qualquer medida drástica.
O caso, recheado de denúncias, lembra, segundo os pastores, a figura bíblica do rei Saul, que teria sido deposto por sua soberba e desobediência.
Entre os episódios mais graves está a troca de ofensas entre Acosta e o pastor Malquiel de Camargo. Prints anexados aos autos mostram o presidente chamando o colega de “safado” e “endemoniado”, entre outros insultos, em meio a um conflito envolvendo uma dívida pessoal de R$ 18 mil. A comissão sugeriu retratação pública, mas Wilton teria se recusado.
Outro ponto levantado é o suposto conflito de interesses. Wilton Acosta aparece como sócio da WK Comunicação LTDA, que firmou contrato com a Fundação de Cultura de MS para a contratação do cantor gospel Bruno Roques, no valor de R$ 15 mil. Ao todo, segundo documentos anexados ao processo, a empresa teria recebido cerca de R$ 100 mil da Fundac apenas em 2024.
“Ele precisa decidir se quer ser fornecedor, empresário ou presidente do conselho. Tudo ao mesmo tempo, não dá”, diz trecho da denúncia.
Marcha para Jesus e falta de transparência
O uso do dinheiro público para eventos religiosos também é alvo de críticas. Os pastores apontam que não há controle ou transparência sobre os valores repassados para a realização da Marcha para Jesus. A empresa Criative Music LTDA, tida como a maior agência de cantores gospel do Brasil, teria recebido R$ 3,2 milhões da Fundac só neste ano para intermediar apresentações de artistas. Parte da denúncia afirma que a empresa bancava o aluguel de um carro para Acosta.
O Conselho Fiscal do Consepa-MS, segundo a denúncia, nunca recebeu relatórios financeiros, e o dinheiro das mensalidades de conselhos municipais e convênios com prefeituras sequer passava pela tesouraria. O atual tesoureiro, apóstolo Toninho, foi o único a não apontar irregularidades.
O que diz Wilton Acosta
Procurado, Wilton Acosta negou irregularidades. Disse que os xingamentos trocados com Malquiel se deram por questões pessoais e que a entidade arrecada pouco, sustentando-se com as mensalidades dos pastores, muitas vezes inadimplentes.
Sobre a Marcha para Jesus, afirmou que não recebe nada e que a Fundac faz contratação direta com os artistas. Admitiu que “algumas” empresas atuam no agenciamento de shows, mas negou qualquer vínculo seu ou de familiares com tais empresas.
A respeito do processo na Funtrab, disse que está em fase inicial e que confia em sua absolvição. Ele também contestou o afastamento feito pelo Conselho de Ética, argumentando que esse órgão não tem poder deliberativo e que apenas a diretoria executiva poderia destituí-lo.
Situação indefinida
A ação segue em tramitação e aguarda manifestação oficial de Acosta. Os denunciantes, por sua vez, seguem pressionando por mais transparência e pela retomada da credibilidade da entidade. O espaço segue aberto para manifestação de todos os envolvidos.
Com informações Top Mídia News.