O Brasil foi oficialmente retirado do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). O anúncio foi feito nesta segunda-feira (28), durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU (UNFSS+4), realizada em Adis Abeba, na Etiópia. A conquista é fruto dos resultados do triênio 2022-2024, que apontam que menos de 2,5% da população brasileira está em situação de subnutrição — índice abaixo do limiar definido pela FAO para inclusão no mapa.
A saída do país da lista internacional de nações com alto índice de fome representa uma reviravolta em relação ao cenário crítico de 2022, quando o Brasil enfrentava números alarmantes de insegurança alimentar. “Sair do Mapa da Fome era o primeiro objetivo do presidente Lula ao assumir o mandato em 2023. A meta era 2026, mas conseguimos em dois anos”, celebrou o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.
Segundo o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025 (SOFI 2025), o Brasil teve avanços expressivos com o Plano Brasil Sem Fome, que integra uma série de políticas públicas focadas na redução da pobreza, apoio à agricultura familiar, fortalecimento da alimentação escolar, estímulo ao emprego e acesso à alimentação saudável.
Retomada após retrocesso
É a segunda vez que o país conquista esse marco. A primeira foi em 2014, durante o segundo mandato do presidente Lula. Contudo, o desmonte de políticas sociais a partir de 2018 fez com que o Brasil retornasse ao Mapa da Fome entre 2018 e 2020.
Em seu terceiro mandato, Lula retomou programas como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o PRONAF (crédito para agricultura familiar). Até o fim de 2023, cerca de 24 milhões de brasileiros deixaram de viver em insegurança alimentar grave, segundo dados do IBGE baseados na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA).
Queda da pobreza e da desigualdade
Outros indicadores sociais também reforçam os avanços recentes. A taxa de pobreza extrema caiu para 4,4% em 2023, o menor nível da série histórica, retirando quase 10 milhões de pessoas dessa condição desde 2021. O desemprego também atingiu sua menor taxa desde 2012: 6,6% em 2024.
A renda mensal domiciliar per capita alcançou R$ 2.020, e o índice de Gini, que mede a desigualdade, recuou para 0,506 — o melhor desempenho da série histórica. Em destaque, a renda do trabalho dos 10% mais pobres cresceu 10,7% em 2024, ritmo 50% superior ao dos 10% mais ricos.
Outro fator decisivo foi a inserção de beneficiários do Cadastro Único no mercado formal de trabalho: segundo o Caged, 98,8% das 1,7 milhão de novas vagas com carteira assinada foram ocupadas por pessoas cadastradas no sistema. Do total, 1,27 milhão eram beneficiários do Bolsa Família. Em julho de 2025, cerca de 1 milhão de famílias superaram a linha da pobreza e deixaram de receber o benefício.
Cooperação internacional: Aliança Global
A experiência brasileira agora serve como referência internacional. Durante sua presidência no G20, o Brasil propôs a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que já reúne mais de 100 países e diversas organizações. A proposta busca fortalecer a cooperação internacional para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os de erradicação da fome e da pobreza até 2030.
“O exemplo brasileiro pode ser adaptado em muitos países ao redor do globo. No Brasil, sair do Mapa da Fome é só o começo. Queremos justiça alimentar, soberania e bem-estar para todos”, afirmou Wellington Dias.
Segundo o ministro, o compromisso brasileiro é seguir liderando a transformação por meio de políticas sociais integradas e da diplomacia ativa, reforçando que “não há soberania sem justiça alimentar e não há justiça social sem democracia”.