Ao abrir espaço para apoiar as políticas públicas para pessoas LGBTQIA+ a prefeita de Jardim (MS) Clediane, foi alvo não só de violência política de gênero como também enfrentou um festival de postagens homofóbicas e cheias de preconceito, já que não é segredo para ninguém que um dos seus filhos é homossexual assumido.
Além dela, a coordenadora de políticas públicas do setor, Naomi, também recebeu diversos ataques homofóbicos e transfóbicos. Ela é mulher trans e negra, o que aumenta sua representatividade na coordenadoria.
O que causou revolta e indignação, em especial na chefe do Executivo que saiu em defesa da servidora.
“Querem fazer uma segregação e isso nós não vamos permitir. Temos tanto políticas públicas para mulheres, conselho do idoso, das crianças e dos adolescentes. Nossa gestão é uma gestão para todos. Não vamos permitir qualquer tipo de discriminação contra orientação sexual, idade ou classe social”, afirmou Clediane em vídeo nas redes sociais.
Áudios e prints
A reportagem teve acesso a áudios e prints de diversas pessoas em um grupo de WhatsApp onde um pastor de nome “Neto Guerra” destila frases de ódio contra homossexuais, pelo fato de no prédio da Prefeitura ter uma bandeira do movimento e os acusa de serem motivo de “degradação da sociedade”.
“É verdade que existe dentro da prefeitura na atual gestão, um trabalho voltado ao movimento Igbt? Quero deixar claro que não estou cometendo homofobia ou algo do tipo, a opsição sexual das pessoas não e da minha conta, minha questão aqui é : todos sabem que os temas abordados pelo movimento ( LGBT ) não trazem benefício algum a sociedade, pelo contrário, geram a degradação dela”, afirma ele.
No grupo, os comentários de ódio são incitados e entre as pessoas que estimulam está um rapaz chamado, Wender que segundo informações trabalha atualmente como assessor do pré candidato Juliano Miranda “Guga” (PSDB), presidente da OAB/MS de Jardim e adversário político de Clediane.
Em um dos comentários uma das pessoas chama de “fim dos tempos” e outros como “Deus fez o homem e a mulher não fez um ser neutro”.
Outro assume que é escroto. “Mas nós somos retrógrados, escrotos, mente limitada, etc. se for assim, sou”, assume com risadas.
Uma mulher de nome Leia então diz. “Eu acho que todo mundo tem o mesmo direito e o mesmo potencial, seja homem ou mulher . Agora eu não vou chamar um homem que tem barba de ela só pa ele quer cada um com seu cada um ! Respeito! Mas não venha tirar direitos dos outros para se favorecer só pq é IgbtkInshzizbxkxkmx”, ironiza sobre a sigla para em seguida, ‘educadamente’ escrever que “Opinião é igual cu cada um tem o seu”.
A reportagem tentou contato com os envolvidos mas não houve resposta, caso seja desejado o espaço está aberto.
Vale lembrar que em 2019, o STF decidiu que a homofobia é um crime imprescritível e inafiançável. Na decisão, o STF entendeu que se aplicava aos casos de homofobia e transfobia a lei do Racismo (Lei n 7.716/1989).
Segundo coordenadora do Programa Diversidade da FGV Direito Rio, Lígia Fabris, o artigo 20 da lei em questão prevê pena de um a três anos de reclusão e multa para quem incorrer nessa conduta. Há, ainda, a possibilidade de enquadrar uma ofensa homofóbica como injúria, segundo o artigo 140, §3º do CP.