Na zona rural de Rochedinho, distrito acolhedor de Campo Grande, o som das risadas infantis se mistura ao canto dos pássaros e ao cheiro de terra úmida. O cenário é o da Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco, onde o aprendizado ultrapassa os muros da sala de aula e se espalha pelos três campos que compõem o espaço. Era Dia do Cabelo Maluco, em comemoração ao Dia do Professor, e a alegria tomava conta da quadra de esportes. Entre tranças coloridas, aranhas de brinquedo e tintas no cabelo, a festa unia alunos e professores.
“Fazer a felicidade deles não tem preço. Quando a gente cria vínculo, o ensino flui. Eu gosto de estar com eles, de participar da bagunça, ensinar e aprender junto”, confessa, aos risos, a professora Lisandra Rafaela Arcângelo Ribeiro, de 38 anos, moradora do bairro Coronel Antonino, que há três anos se dedica à horta e às práticas do campo. Dentro do clima de descontração, ela também entrou na brincadeira e estava com uma “aranha” no cabelo maluco.

Em uma semana tão especial, Lisandra conta que herdou da mãe o amor pelo ensino. Filha de uma professora, escolheu a educação como profissão. “Minha mãe é professora aposentada, 33 anos de carreira. Sempre achei lindo o que ela fazia. Aqui, aprendo mais do que ensino. Nossos alunos trazem saberes do campo, e isso enriquece nossas aulas”.
Hoje, Lisandra cuida de um horto medicinal com mais de 57 espécies de plantas, projeto iniciado por ela, que reúne ervas medicinais, aromáticas e condimentares. “A Stevia é uma das nossas estrelas. Ela é usada como adoçante natural e em chás medicinais”, explica, orgulhosa, a professora.

Uma história de superação e dedicação
Com uma história marcada pela superação, o diretor da escola, Francisley Galdino da Silva, de 46 anos, residente no bairro Água Limpa, revela que chegou à unidade há mais de duas décadas e lembra, com clareza, o início de sua jornada ainda como professor no começo da carreira. “Quando eu comecei aqui na escola agrícola, a estrada era de chão. Eu não tinha carro e vinha de carona de Campo Grande para cá, às vezes em cima da carroceria de caminhonete. Já cheguei a pegar três caronas para conseguir chegar à escola”.
Nos primeiros anos, Francisley dormia em um pequeno alojamento improvisado dentro da escola, junto com outros professores. “Às vezes, quando fechava a escola, a gente jogava até uma bola. Mas dormíamos cedo porque não tinha internet nem televisão. No outro dia, antes do sol nascer, já estávamos de pé para dar aula. Era difícil, mas nunca pensei em desistir”.

Hoje, a Escola Agrícola atende mais de 350 alunos, do infantil ao ensino médio, e mantém uma fila de espera com mais de cem estudantes. A estrutura cresceu junto com o projeto pedagógico, que inclui três áreas agrícolas, conhecidas como “campos”, destinadas à produção de hortaliças, piscicultura, avicultura, floricultura e manejo de suínos e equinos.
“É um orgulho ver o quanto a escola se desenvolveu. Quando começamos, era tudo muito simples. Hoje, é referência. Esse lugar faz parte da minha história, e eu faço parte da dele”, resume o diretor.

Novos frutos surgem
Os alunos, vindos tanto da zona rural quanto da cidade, reconhecem a importância da escola e dos professores. Pelos corredores, o entusiasmo dos estudantes revela o impacto positivo das histórias e o exemplo dos educadores. O carinho e a admiração aparecem em cada resposta.
Para Rafaela Araújo de Almeida, 12 anos, aluna do 6º ano, o esforço diário vale a pena. Ela acorda todos os dias às 5h30 para pegar o ônibus que sai do bairro Santa Luzia rumo à escola. “Eu amo estar aqui. Gosto da biblioteca e da colheita, mas o que eu mais gosto são as aulas da professora Léo. Ela é muito legal, explica bem e faz a gente rir. A melhor professora de todas!”, conta, sorrindo.

Já Luana Domingos Recalcati, 13 anos, do 8º ano e moradora de Campo Grande, descobriu em Rochedinho um novo jeito de aprender. “Tenho parentes que estudaram aqui e sempre falaram muito bem. Quando soube que tinha vaga, quis vir também. Aqui é diferente. A gente não fica só na sala. Aprende a plantar, cuidar dos bichos, ver as coisas crescerem. É um aprendizado que a gente leva pra vida. A professora Léo é divertida e ensina com paciência. Quando a gente erra, ela fala de um jeito que a gente entende. É firme, mas faz tudo com carinho. Aprendi a respeitar os animais, a cuidar das plantas e a trabalhar em grupo. Aqui, a gente aprende sobre a vida também”.

Ana Alieta Adora Colhavi Quais, de 13 anos, do 8º ano, exibia com orgulho o cabelo colorido de arco-íris, afinal, era o “Dia do Cabelo Maluco” na escola. Mas conta, com carinho, a experiência de estudar ali. “É simplesmente maravilhosa! Tenho muitos amigos, a gente brinca bastante nos recreios e os professores explicam tudo direitinho. A gente vai lá, cuida de todos os animais. Eu amo os animais, principalmente as borboletas. Cuidamos de tudo, dos porquinhos também. Ano passado a gente até ajudou a capar alguns. Aprendi tudo isso aqui! Eu gosto muito do professor Vanjir — ele é diferente, ajuda as meninas no futebol, incentiva todo mundo a participar e da professora Léo. Aqui na escola a gente aprende de um jeito divertido. É um lugar que ensina de verdade e faz a gente ser feliz”.

Outra que chamava atenção pelo figurino no “cabelo maluco” era a estudante Vitória Batista dos Santos, de 15 anos, aluna do 8º ano, que sonha em ser veterinária. “Aqui na escola agrícola é muito bom mesmo. Pra quem vem da cidade, como eu, é uma oportunidade de aprender coisas que a gente nunca aprendeu lá. A gente aprende como plantar, como cuidar das coisas, como ter o hábito aqui do interior. É muito ótimo, porque a gente aprende coisas que nunca teve noção. O ano passado, por exemplo, a gente capou porquinhos com o sétimo ano. É uma experiência que a gente leva pra vida. Eu quero me formar em veterinária de porte grande. Isso aqui vai influenciar na minha vida profissional, com certeza. Tenho dois professores que gosto muito: a professora Crícia e a professora Léo, de práticas agrícolas. Elas ensinam com carinho e paciência, e a gente aprende fazendo. Estudar aqui muda a gente. Ensina a cuidar, a respeitar e a valorizar o que vem da terra”.

Professora Léo, a guardiã dos animais e dos afetos
A professora Leuilza Terezinha de Souza Fay, de 38 anos, é chamada carinhosamente de professora Léo pelos alunos. Desde 2019, ensina práticas agrícolas e zootécnicas. “Aqui, o aprendizado é 70% prático. Eles plantam, tratam dos animais, colhem, produzem. É mão na massa o tempo todo”, explica, enquanto mostra o galinheiro onde as crianças cuidam das aves de corte e postura.
“A gente produz pra escola, e o que sobra, vendemos no empório. Assim, eles aprendem também o valor do empreendedorismo: produzir, vender, reinvestir. É uma lição pra vida”.

Léo conta que nasceu em uma família de professores. “No começo, eu nem pensava em ser professora, mas me apaixonei pela convivência com os alunos. Eles ficam mais comigo do que com os pais. Tem criança que sai de casa às 5h da manhã e só volta às 5h da tarde. Eu acabo sendo mãe, psicóloga, amiga. Ser professora é cuidar”.
Ela diz que conhece cada aluno pelo olhar. “Às vezes, ele chega diferente, percebo e já pergunto: ‘Aconteceu alguma coisa, né?’. A gente tem esse vínculo. E é isso que dá sentido a tudo”.

Assim, entre hortas, galinheiros e risadas, a Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco é muito mais que um espaço de ensino. É uma comunidade que cultiva sonhos, valores e vínculos. Francisley, Lisandra e Léo são o retrato vivo de uma vocação que transforma vidas: a de ensinar com o coração. E, na Semana dos Professores, é impossível não reconhecer que, nesse chão de Rochedinho, o conhecimento floresce com o mesmo cuidado com que se cultiva uma semente.
#ParaTodosVerem: Foto de capa com as crianças ao lado das professoras durante a comemoração do Dia do Cabelo Maluco. Em seguida, imagens da professora Lisandra Rafaela Arcângelo Ribeiro. Na sequência, o professor e diretor Francisley Galdino da Silva. Imagem da fachada da Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco. Fotos das estudantes Rafaela Araújo de Almeida, Luana Domingos Recalcati, Ana Alieta Adora Colhavi Quais e Vitória Batista dos Santos. A professora Leuilza Terezinha de Souza Fay (professora Léo) aparece cuidando dos animais e das plantas. Ao lado, uma galeria de fotos complementa os momentos registrados na escola.