Bonecos hiper-realistas viralizam nas redes sociais e dividem opiniões; para algumas mulheres, são companhia e expressão de afeto — para outras, motivo de estranhamento
Nas últimas semanas, os chamados bebês reborn — bonecos de vinil incrivelmente realistas — têm dominado o debate público e gerado uma onda de curiosidade, admiração e, em muitos casos, preconceito. Alimentado por vídeos que viralizam em ritmo acelerado nas redes sociais, o fenômeno se tornou tema de reportagens em programas de TV, como o Fantástico, no último domingo (12), e passou a despertar questionamentos sobre os limites entre arte, terapia e loucura.
Criados com técnicas que simulam texturas de pele, peso, expressões faciais e até veias visíveis, os reborns são mais que brinquedos. Para muitas mulheres — especialmente adultas — eles funcionam como extensão emocional, válvula de escape ou mesmo forma de lidar com traumas e perdas. Em outros casos, são colecionáveis ou peças artísticas feitas sob encomenda, com preços que podem ultrapassar os R\$ 2 mil.
Uma das vozes mais conhecidas do universo reborn é a influenciadora Nane Reborns, que possui milhares de seguidores nas redes sociais. Em entrevista recente, Nane contou ter sido alvo de insultos em um shopping, onde foi chamada de “maluca” por passear com um de seus filhos reborn no carrinho. O episódio, embora agressivo, escancara o estranhamento social diante de algo que foge dos padrões tradicionais de afeto e maternidade.
“Eu não sou louca. Eu sou artista e também uma mulher que encontrou nos reborns uma forma de se expressar”, diz Nane. Ela mesma confecciona os bonecos e compartilha no TikTok e Instagram o dia a dia com eles — desde trocas de roupa até passeios e interações com seguidores.
Apesar do crescimento da comunidade reborn, ainda há muito julgamento. Críticas vão desde o argumento de que seria um “culto à fantasia” até preocupações com a saúde mental das responsáveis por esses cuidados. Psicólogos, por outro lado, apontam que o vínculo com os reborns pode, sim, ter efeito terapêutico — sobretudo em casos de luto perinatal, ansiedade ou solidão.
Se por um lado o fenômeno gera espanto, por outro, abre espaço para reflexões importantes: por que a sociedade ainda tem dificuldade em lidar com formas diferentes de afeto e expressão? Até onde vai o preconceito e onde começa o respeito ao outro?
O que é certo é que os bebês reborn saíram dos nichos da internet e agora ocupam as ruas, os shoppings e, sobretudo, o imaginário coletivo. E talvez seja justamente esse o motivo de tanto burburinho: o espelho que eles nos oferecem — não só sobre o que sentimos, mas sobre como reagimos quando vemos o outro fazer o mesmo, de um jeito diferente.
Com informações UOL.