Assinado pela procuradora de Justiça e coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Ana Lara Castro, o MP (Ministério Público) entregou o relatório com a linha cronológica dos acontecimentos que resultaram na morte de Sophia de Jesus Ocampo, em 26 de janeiro de 2023.
Detalhado e mostrando toda agonia sofrida pela pequena, o documento foi juntado ao processo, que segue na 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, sob responsabilidade do juiz Aluízio Pereira.
Contrariando o que foi dito em depoimento, mensagens trocadas entre o padrasto Christian Campoçano e a genitora da menina, Stephanie da Silva, mostram que a sessão de agressão começou por volta das 13h do dia 25, quando a internet da casa que moravam apresentou instabilidade e atrapalhou o acusado nos jogos virtuais, o deixando nervoso.
Toda agressividade foi direcionada a menina, que apanhou novamente, só que dessa vez foi fatal.
Em mensagens pelo Whatsapp ele escreve que “eu tô estressado, meu computador já tá travando tudo a Estela fica gritando que nem uma retardada mental, a Sophia aqui endemoniada”.
Christian continua a conversa dizendo para a genitora “não deixa mais a Sophia fazer aquela graça que ela fez ontem não, na hora de comer comida ela nunca come, aí ontem fez aquela graça e comeu não quantos pão lá, tá botando tudo para fora aqui a bonita (…) ela vomitou no colchão inteirinho”.
Em outro momento, ainda relatando o estado da menina, Christian diz que ela vomitou por quatro vezes, que vai dar dipirona por ela apresentar febre e bromoprida, mas se ela continuar as reclamações, “dá um quebra costela nela para dormir”.
O Gaeco relembra, na página 15 do relatório, um áudio em que ele “ensina” como fazer criança “parar de chorar”, pressionando o rosto da vítima aos prantos contra o colchão, até ficar sem ar e precisar cessar o choro para conseguir respirar.
Stephanie não o repreende, apenas considera estranho a quantidade de vômito. Quando ela chega do trabalho, na companhia de alguns amigos, buscam um “medicamento mais forte” para ela, enquanto outros registros no aplicativo mostram a criança reclamando de dor e, em algumas fotos, completamente debilitada.
A mãe de Christian também fica ciente do quanto a menina está mal e sua atitude de é apenas orientar que leve “no postinho”.
Mesmo com a menina agonizando, o réu chega a confessar para um amigo, já na manhã do dia 26, data do óbito, teve relações sexuais com Stephanie e que não quer levar a criança para um posto de saúde. Só quando Sophia entra em choque, convulsionando, na tarde daquela quinta-feira, que o casal finalmente procura ajuda médica, mas ela já chega à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino sem vida.
![Foto feita pela genitora, às 22h do dia anterior ao óbito de Sophia, mostra que a vítima já estava debilitada. (Relatório do Gaeco/MPMS)](https://www.aonca.com.br/wp-content/uploads/2024/02/image-9.png)
Exposição sexual
Alguns dias antes do óbito de Sophia, Christian registrou fotos íntimas, se masturbando, no mesmo ambiente que livre circulação das crianças, que dormem em um colchão sem forro ao fundo da imagem. Inclusive, no meio da sequência de fotos que fez do órgão sexual, aparece abraçado com Sophia.
De acordo com o código penal brasileiro, faz parte dos crimes de pedofilia, no artigo 218, constranger criança ou adolescente, corromper, facilitar, expor, exibir o corpo apenas com roupas intimas, ou tocar partes do corpo com o objetivo de praticar ato para satisfazer a própria lascívia ou a de outrem, com ou sem conjunção carnal utilizando criança ou adolescente.
O relatório foi produzido com minúcias a partir de perícias realizada por profissionais e mostram a perversidade dos acusados, desmontando a tese da defesa.