Cartinhas cheias de coração, desenhos pintados com carinho e lembrancinhas feitas pelas crianças. Com o dia das mães chegando, esse era o enredo esperado por muitas mulheres que tem seus filhos nas escolas municipais. Mas o desabafo de uma mãe mostrou que não é bem isso que está acontecendo, e o assunto acabou gerando um debate sobre as datas comemorativas nas escolas.
Manu Ocampos, que é mãe solo, contou que a data deixou de ser comemorada nas escolas da REME (Rede Municipal de Ensino) em Campo Grande (MS). E apesar das negativas da Semed (leia nota na íntegra abaixo), a reportagem conversou com algumas mães que contaram que há casos em que a escola faz o “Dia de Quem cuida de Mim” e em outras, não há nenhuma comemoração.
Em uma “carta aberta à Secretaria de Educação”, Manu escreveu “como mãe e com o coração apertado diante do que vem acontecendo nas escolas nesta época do ano”.
“Entendo e apoio que existam diferentes tipos de família. Apoio que toda criança seja acolhida e respeitada, seja criada pela avó, por tios, por duas mães, por um pai solo ou por qualquer arranjo que ofereça amor e cuidado. A diversidade existe e precisa ser considerada, sim. Mas não posso me calar diante da exclusão da mãe das comemorações escolares. Nos últimos anos, o Dia das Mães vem sendo ignorado em muitas instituições. Silenciosamente, ele é substituído por datas genéricas, por “homenagens neutras”, ou simplesmente deixado de lado para “não causar desconforto”. Isso, para mim, não é inclusão. É apagamento. É dizer, ainda que de forma indireta, que ser mãe hoje é um papel incômodo demais para ser celebrado”, pontuou ela no desabafo.
Para ela, mãe é a pessoa que cria com afeto, a que gera com sacrifício, a que ama com entrega. “Ela também tem o direito de ser lembrada, honrada e celebrada pelos filhos. Não vejo sentido em retirar o direito de tantas crianças homenagearem sua mãe, apenas para não ofender uma minoria. Isso não é justo com ninguém. A escola tem espaço para todos — e é totalmente possível manter o Dia das Mães, o Dia dos Pais e o Dia da Família, com sensibilidade e equilíbrio. Uma comemoração não precisa anular a outra. Eu, como mãe, espero que meu filho possa viver esses momentos. Que ele tenha a chance de pintar um cartão, ensaiar uma música, entregar um desenho com o nome “mamãe” escrito com as próprias mãos. Não há ideologia que possa substituir esse tipo de lembrança na memória afetiva de uma criança. Por isso, com todo respeito, peço que a Secretaria de Educação repense essa orientação que vem ganhando força nas escolas. Que as mães não sejam silenciadas. Que a maternidade não seja apagada para caber em discursos que se dizem inclusivos, mas que excluem justamente quem mais se doa. É uma carta simples. De mãe para quem toma decisões importantes. Mas espero, de verdade, que ela chegue ao coração de quem ainda acredita na importância de dar lugar a quem sempre teve: a mãe”, finalizou.
Outras mães que conversaram com a reportagem contaram que realmente isso aconteceu. “Sempre ouvi que não querem constranger famílias homoafetivas. Não querem é ativistas reclamando, porque existem outros modelos de família e vira um furdunço na escola. Não querem problemas e para não constranger tiram o direito de quem é mãe/mulher”, contou uma mãe que tem filhos matriculados na Escola Municipal Ana Lúcia de Oliveira Batista.
“As famílias diferentes querem ser respeitadas, mas isso tira o nosso direito de ter a nossa comemoração? Não podemos perder também esse direito, esse momento”, comentou outra mãe que pediu para não ser identificada. “Se você procurar vai ver que cada dia mais essas comemorações estão sumindo. Quando meu filho ainda estava na EMEI (educação infantil) sempre tinha, dia das mães, dia dos pais. Mas com o tempo depois de tantas reclamações dessas novas famílias, que merecem respeito, porém, o direito e o constrangimento de alguns, tirou o direito se outros”, lamenta.
O que diz a Semed?
Em nota, a assessoria da Semed, no entanto, afirmou “que o Dia das Mães segue sendo celebrado nas unidades escolares da Rede Municipal de Ensino (REME), conforme previsto no calendário escolar oficial”, apesar de professoras e outras mães dizerem o contrário.
E complementou ainda pontuando que “em diversas escolas, essa data é, inclusive, ampliada e comemorada sob a temática do Dia da Família, com o objetivo de valorizar responsáveis que fazem parte do cotidiano das crianças. Essa abordagem não substitui nem anula a importância da mãe, pelo contrário, promove um ambiente ainda mais acolhedor e inclusivo para todas as composições familiares, sem restringir ou excluir qualquer representação afetiva.”
