No assunto eleição de Mesa da Câmara de Campo Grande, é preciso sempre lembrar que “vereador gosta de vereador”
Em 2013, a Câmara Municipal de Campo Grande enfrentou um dos piores períodos de sua história. Naquele ano, no dia 1º de janeiro, logo após a posse do então prefeito Alcides Bernal, do PP, e dos vereadores, uma tensa eleição da mesa teve o nome de Mário César referendado na presença de André Puccinelli, então governador do Estado. Ele foi atacado pelo ex-governador Zeca do PT, que, eleito vereador naquela época, afirmou que “tio Pucci” deveria ser expulso dali, pois sua presença era “inconstitucional”.
Mário disputou a presidência com a então vereadora Rose Modesto (do PSDB), vencendo por 20 votos a 9. Quem vivenciou aquele momento sabe o quanto foi feito para que a coalizão fosse um caminho viável. Contudo, Bernal se juntou a Rose e insistiu que, por ter vencido a eleição, deveria “escolher o presidente da Casa”.
A partir desse ponto, a “harmonia da casa” desmoronou. A briga entre os vereadores durou muito pouco.
Como é sabido, Bernal enfrentou conflitos com o legislativo municipal, sendo, inclusive, alvo da primeira moção de repúdio contra um prefeito na história da Capital. Ele também foi o primeiro a ser cassado, reconduzido e não reeleito, o que levou à entrada de Marquinhos Trad em 2016.
Sabiamente, Marcos não se opôs ao nome de João Rocha (na época no PSDB), que foi reeleito presidente, com Carlão (do PSB) como primeiro-secretário.
Nesse mesmo ano, Adriane Lopes foi eleita vice-prefeita e, posteriormente, reeleita para o cargo. Em 2022, após a renúncia de Marquinhos, Adriane foi conduzida ao cargo de prefeita.
Carlão sempre se relacionou bem com Adriane. Apesar de seu jeito, por vezes delicado como um Massey Ferguson, ele cumpre o papel de presidente da Câmara, e o principal dele é estar ao lado do Legislativo.
“Vereador gosta de vereador” é uma frase clássica que sempre ouvimos nos corredores do poder. Essa talvez seja a expressão necessária para entender o que está acontecendo atualmente, com a eleição da Mesa na Câmara de Campo Grande.
Papy, vereador que foi eleito para seu terceiro mandato, fez o dever de casa: procurou outros vereadores assim que a eleição terminou e começaram os burburinhos sobre a composição da mesa. Ao que se sabe, ele já teria conseguido nada menos que 23 assinaturas entre os 28 vereadores.
Entre os que não assinaram, estão os que apoiaram Rose Modesto no segundo turno: o ex-prefeito Marquinhos Trad, Silvio Pitu e os vereadores do PP.
A segunda maior bancada da Câmara, com quatro vereadores, os progressistas trazem consigo a força de terem vencido uma eleição difícil e a senadora Tereza Cristina. Entre eles, somente Maicon Nogueira não se postulou como candidato.
Ainda com o gosto da vitória, Adriane teria declarado que “seria inadmissível o PP não disputar a presidência”. Há controvérsias.
A história já mostrou que não dá muito certo quando o chefe do Executivo tenta se envolver explicitamente na eleição da mesa. É de bom tom que o vitorioso seja generoso, pelo menos publicamente. Os bastidores, porém, são uma outra história.
Nesse contexto, o melhor caminho hoje seria contemporizar e compor. Talvez até repetir o modelo que existe no âmbito estadual, onde o PSDB, apesar de ter vencido o Executivo em 2022, compôs para que a presidência da Assembleia Legislativa ficasse com o PP.
Para evitar uma vitória de Pirro, Adriane pode repensar sua posição e retribuir a gentileza, mantendo assim a harmonia tão necessária para uma gestão que já começará enfrentando um “terremoto” e um terceiro turno.
Mas isso é assunto para outro artigo…